13 de agosto de 2011

A modernização da cidade do Barreiro não devia ser consentânea com a omissão da História (i) e da participação democrática (ii):

I
Se são precisas Teses de Mestrado, como a da senhora arquiteta Filipa Varela Valadeiro - Reconfiguração da cidade industrial: O caso do Barreiro, para o poder ver a realidade e o povo perceber as mudanças, então elas são bem vindas. Então, muito obrigado e parabéns arqt. Filipa Valadeiro. Mas atenção: a cátedra não vota e não será imune a críticas; prometo! 
A política de melhoria das acessibilidades e da mobilidade, entre o Norte e o Sul do território atravessado pela linha férrea do Sul / CP, é obra antiga da CMB:
  • A ponte pedonal da Escavadeira, tão bem retratada pela excelência de Augusto Cabrita (R. T. primeiro de Janeiro * R. Mário Pereira);
  • A ponte pedonal da Recosta (R. prof. João Prates * R. Aníbal P. Fernandes);
  • O alargamento do túnel do Lavradio e a melhoria da gestão do trânsito rodoviário da Via rápida ( reparem que, neste último caso, não elogio a falta de melhoria do trânsito pedonal, nomeadamente das pessoas portadoras de deficiência(s)!);
  • O viaduto da Recosta (R. Miguel Pais * Av. da Liberdade).
Porque é que estes exemplos nem sempre foram seguidos e desenvolvidos pelos Presidentes da CMB após o 25 de Abril, e se optou por construir um túnel na Rua Miguel Bombarda? Porque é que, mais recentemente, esqueceram-se de prolongar a passagem pedonal da Estação do Barreiro-A até ao Mercado 1º de Maio/Escavadeira?! Não sei! O que sei é que, estando no Alto do Seixalinho, e se quiser ir apanhar o comboio à Estação do Barreiro-A, tem-se que descer com as malas o túnel e dar a volta ...(ficaram cansados; também eu!).
A "ideia" de prolongar a Av. D. Afonso Henriques para Norte é também antiga e tem, no mínimo, décadas. Todavia desconheço que tenha ficado decidido onde amarrará do outro lado (na freguesia do Barreiro). Porque é que nunca se planeou / decidiu essa obra?
Estou totalmente de acordo com a senhora arquiteta Filipa Valadeiro quando considera que cidade do Barreiro tem de ser reconfigurada e unificada e afirma que:  
"Historicamente a linha dos caminhos-de-ferro acabou por unificar e ajudar a equilibrar a cidade"
e mais à frente diz:
"hoje vemos que a linha dos caminhos-de-ferro acaba por dividir e fragilizar a cidade e acaba por cortar a cidade ao meio, ficando cortada por uma zona urbana, a norte, e uma zona urbana, a sul."
Todavia, estas suas afirmações não explicam as relações de poder que permitiram criar um território com problemas de mobilidade pedonal Norte-Sul, fraca permeabilidade e articulação entre as diferentes polaridades sociais e centralidades económicas, intra concelho e inter AML, e os factores urbanísticos e arquitectónicos aceleradores das desigualdades sociais no concelho!

As más acessibilidades podem ser barreiras, em especial para os portadores de deficiência, mas só se elas dificultarem o acesso e a fruição de bens valorizados pelo cidadão. Parece-me pois que o problema do atraso do desenvolvimento do Barreiro é uma crise de valores, nomeadamente políticos, e de identidade individual e colectiva: 
Estamos indecisos:  ente a ruralidade e o cosmopolitismo urbano; entre o sector primário, as pescas, e a nostalgia do emprego industrial; ansiosos pelo sucesso no comércio, mas também nos serviços, nas Artes nos eventos e na Cultura, mas sem saber como gerir as potencialidades náuticas do Mar da Palha-rio Tejo, do rio Coina, e de Alburrica; estamos  comprometidos com as ligações históricas com o Seixal, Sesimbra, Palmela e a Moita, mas continuamos fascinados(as) por Lisboa; olhamos para a Arrábida e só nos lembramos de Setúbal quando a burocracia nos obriga à ir à capital de distrito! Temos um Instituto Politécnico mais vocacionado  para a Construção Civil, mas ambicionamos preservar/rentabilizar a mata da Machada; Temos uma Escola de Fuzileiros e inaugura-mo-lhes rotundas, mas esquece-mo-nos dos nossos desportistas do passado....
Não é pois a linha férrea e as suas funções históricas que desresponsabilizará os poderes políticos das decisões tomadas, nomeadamente:

Por um lado, quem decidiu e porquê colocar estes bens no lado Norte da dita linha férrea:
  • A Biblioteca Municipal. Porque é que não há uma extensão no Alto Seixalhinho?
  • Reconstruir e Ampliar o Mercado Municipal 1° de Maio em detrimento da construção do "Mercado 2 de Maio de 1973" no Alto Seixalinho?
  • O Centro Comercial Fórum Barreiro!
  • Refazer pela 2º vez a Av. Alfredo da Silva e ainda por cima sem preocupações ecológicas de poupança de energia eléctrica luminosa!
Por outro lado, quem decidiu e porquê esquecer o lado Sul da linha férrea:
  • Destruir o parque infantil do Bairro Novo da CUF e, consequentemente, destruir os sonhos e as brincadeiras das crianças, para, no local construir um parque de estacionamento automóvel para a estranha urbanização da Santinha!
  • Aprovar a urbanização da Escavadeira sem um jardim público digno da Escola Mendonça Furtado, e  permitiu a construção de um prédio bloqueando as vistas da Rua Pedro Álvares Cabral para o Tejo?
  • Contemporanizar com a escassez de equipamentos sociais na Freguesia do Alto Seixalinho (22000 habitantes, 5000 dos quais com mais de 65 anos)! 
  • Só agora recuperar o Mercado Nicola e esquecer-se de colocar paragens de autocarro perto! Os clientes não são burros de carga!
  • Esquecer-se de  abrir um Centro de Juventude, que em parceria com associações e clubes, contrarie o sequestro da democracia por elites priveligiadas!?
  • Manter fechada a sede do FC Silveirense e não arranjar os seus envolventes!
  • Não arranjar o logradouro público da R. Pedro Álvares Cabral e mantê-lo indefinidamente como estaleiro de um construtor civil...
É por isso que desejo uma reconfiguração da geometria política do governo do Barreiro que permita, de facto, a participação / envolvimento dos cidadãos na discussão das políticas públicas, ao nível de cada Freguesia e da Assembleia Municipal. É por isso que faço votos que não sejam os mesmos protagonistas / decisores políticos que deixaram o Barreiro como está, a governarem o seu futuro.

II

O lema do cultura política do governo do Barreiro é agora:  "Barreiro - Cidade da participação". Fico contente com a intenção! Mas fiquei a rir, com a contradição existente entre a intenção e a prática! :-D

Houve quem sugerisse. como alternativa e em jeito de provocação, para a etimologia do topónimo - "Barreiro" - das famigeradas "barreiras". Bem visto!
De facto "barreira" não rima com "participação"; mas, na dialéctica das contradições deste concelho, estão bem um para o outro: antítese. 
Sugiro ainda, como alternativa, o epíteto "Barreiro - terra dos novos ricos do Urbanismo, muito felizes, obrigado": Até temos dois Supermercados Modelo/Continente a uns 300 metros um do outro. Ainda bem, em especial para os idosos! Só espero que não fechem o do Alto Seixalinho, a pretexto da melhoria das acessibilidades ao centro do Barreiro e ao Centro Comercial Fórum Barreiro!

PS: Parabéns pelos mini-bus; são uma boa ideia ecológica; só espero é que os motoristas sejam profissionais de transporte de passageiros. 

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